quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

sábado, 5 de janeiro de 2019

História do Giramundo - Estrela da Felicidade




A primeira estrela que vi foi em São Luiz do Paraitinga, SP, um dos últimos baluartes da cultura e folclore brasileiros. Nós (eu e a Ana Maria) a desmontamos para ver como era feita, e depois pesquisamos materiais e técnicas de montagem, e durante este período aconteceu o inesperado: pessoas oriundas de todo o Brasil que passavam por nossa loja reconheciam as estrelas como lembranças de avós e bisavós, mas os nomes que lhes davam eram diferentes conforme a região.

Uma peça de artesanato produzida em todo o Brasil durante pelo menos 200 anos, tecendo estórias e histórias de famílias. O mais bonito é que elas viam as estrelas com um brilho de felicidade, de saudade nos olhos... começamos a recuperar a tecnica, a reproduzir a montagem de varios locais do Brasil, e pretendemos divulgar isso para resgatar este artesanato antigo da época do Imperio. Descobrimos tambem que as moças daquela época, com a mesma tecnica, faziam caixinhas e porta joias.





Eis os nomes que até agora coletamos, a algumas das estórias relacionadas às estrelas: 

Flor de Mandacaru: é assim chamada no Nordeste, onde eles fazem estrelas menores dentro das outras, reproduzindo a geometria da flor do cacto do agreste. Nos contaram que enfeitam varandas das casas e barracas em festas regionais.

   

Giramundo: é o nome mais conhecido, no Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, têem um pingente que pode ter várias formas e ficam girando ao sabor do vento, de acordo com uma de nossas fontes mostrando às pessoas as várias faces que a vida tem, e que nenhuma delas é permanente. A lenda diz que ela "chama " a sorte ao girar, porisso é pendurada nos batentes de portas, janelas e em varandas.







Carambola: nome dado no interior do Paraná,     
devido à semelhança da estrela com a 
geometria de uma fatia transversal da fruta.

Estrela, Segredo, Cofrinho: nomes conhecidos no estado de São Paulo, devido ao costume da época imperial em que as mães presenteavam a filha que se casava com uma estrela e punham dentro dela algum dinheiro para emergências. Nos relataram que ao redor de 1940-1950 se ensinava nas escolas as meninas a fazer estrelas nas aulas de artes em escolas do interior paulista, com uma abertura, para usar como cofrinho.




Estrela da Felicidade, ou Estrela de San Tiago: nome dado no sul do Brasil e nos pampas em geral, onde a influência da cultura ibérica embutiu um costume místico na feitura das estrelas, que se chama “costurar orações" de proteção ou na intenção de cura, tornando a estrela um amuleto pessoal, lá as estrelas eram feitas por curandeiras.

Espinheiro, agulheiro: nomes dado em Goiás e Mato Grosso, onde são feitas com losangos bem pontudos e estreitos.

Pindaíva ou pindaíba: estrela feita em tons de vermelho escuro, este nome vem da região do pantanal, Goiás, Mato Grosso. É uma fruta vermelha, cheia de pontas, que dá em arvores de mata densa no Brasil central... quando os caboclos não teem mais nada para comer entram na mata para catar pindaívas ( daí surgiu a expressão "está na pindaíba" = não tem nenhum outro recurso)


Tradição oral

Uma variante das estórias ligadas às estrelas veio das fazendas da região serrana do Rio de Janeiro e é particularmente singela,é de que as mães presenteavam as filhas no dia do casamento com uma estrela: durante toda a vida da moça a mãe guardava pedacinhos do tecido usado para confeccionar as roupas dela, lembranças do dia de batismo, aniversários e outras datas, e quando a moça se casava (em geral ainda adolescente) a mãe lhe entregava partes da sua história na forma de uma estrela, que ela iria levar para a casa onde ia começar sua nova história como futura mãe, num ritual de passagem.
Naquela época, muitas vezes a mãe nunca mais via a filha que se casava porque ela podia ir morar em fazendas muito distantes e não tinham formas rápidas de comunicação, e muito raramente as mulheres tinham dinheiro na mão. As mães guardavam então moedas dentro da estrela, antes de fecha-la, para que a moça tivesse dinheiro à mão em caso de emergencias, e por isso as estrelas tambem eram chamadas de "segredo".


Montagem

As estrelas são feitas com papel paraná, 60 losangos revestidos de tecido individualmente e depois costurados uns aos outros, formando 12 flores de formato pentagonal, num trabalho de cerca de 6 horas de costura para uma estrela pequena, para quem já tem bastante prática.





Quem gosta de fazer arte com as mãos sabe que existe um prazer em dar forma à beleza... mas no caso das estrelas é uma coisa intensa, porque a cada corte diferente no tecido elas ganham nova vida, nova forma. É como solidificar sonhos, por ordem na criatividade, organizar a beleza.


gira mundo, e o mundo gira... e a cada volta, se vê outra cor, outra flor, outra vida.












quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

12 faces

giramundo 12 faces

este modelo está relacionado à "Filosofia" do Giramundo:  "O mundo tem muitas faces, e está em constante movimento.  Experimente ver as coisas por outros ângulos."

É feito com o mesmo tecido, porém cortado diferente para cada flor, formando 12 desenhos diferentes obtidos da mesma estampa.

Girando, lembra um caleidoscópio.


 

 

















giramundo caipira

 Modelo caipira







Este é o modelo original de giramundo feito por pessoas que usavam retalhos de tecidos e caixas de fósforo. O tamanho dele não é grande porque o losango básico tem o tamanho da tampa da caixa de fósforos.  Os tecidos são misturados, em geral tecidos usados para fazer roupas da família. É costurado com linha branca de algodão.

 


Nos anos 1940-50 professores de Artes ensinavam a fazer este giramundo nas escolas, e os chamavam de "cofrinho". Uma das beiradas é deixada sem costurar para inserir moedas.  Isto pode remeter ao fato de que uns 100 anos antes as moças escondiam dinheiro dentro dos giramundos.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

como fazer um giramundo

Esta sequencia de fotos ilustra como eles são feitos desde o princípio.
As estrelas são feitas de papelão, 60 losangos revestidos individualmente com tecido e depois costurados uns aos outros, primeiro 5 formando um pentagrama e depois unindo os 12 pentagramas para formar a estrela. 
Cerca de 6 horas de costura para quem já tem bastante prática.









O artesão pode definir losangos mais estreitos ou largos, conforme queira estrelas mais fundas ou rasas no centro da flor pentagonal.

No entanto, o sólido geométrico chamado de Hexecontaedro Rômbico, que tem 60 faces iguais, se baseia numa razão de 1,618 (constante áurea Phi) entre altura e largura dos losangos, formando o chamado Golden Rombus.

Mais informações sobre a geometria do giramundo:

http://mathworld.wolfram.com/RhombicHexecontahedron.html

http://mathworld.wolfram.com/GoldenRhombus.html